Foi muito barulho e muitas luzes para quê?
Será que alguém sabe explicar o porquê deste encantamento Websummit?
Começando pelo ano passado, quando a Websummit teve um efeito semelhante nos media, ainda que um pouco menor, e após uma semana de festa nunca mais se ouviu falar de nada… até há uma semana atrás.
Sim, e sei que traz muita visibilidade para o nosso país. Mas será que é só isso? É esse apenas o objectivo de um evento desta envergadura? É isso que se pretende com os milhões que o nosso estado anuncia ter investido?
Será o barulho das luzes propositado para causar um encantamento de tal ordem que nos distrai da realidade que está por trás de tudo isto?
Apenas me faz lembrar a peça de Shakespeare “Muito barulho por nada”, ou seja: grandes confusões, alarmes, intrigas, amores e desamores e no final fica tudo na mesma, começa como acaba. Havendo sempre um lado trágico, como não podia deixar de ser numa peça shakespeariana.
Aqui parece-me a mesma situação. Estamos em Portugal, recebemos a Websummit, fazemos tudo com grande pompa e circunstância (aparentes), o estado investe milhões (o lado trágico) e, agora acabou. E o que mudou? Alguma coisa que alguém saiba? Ou ficou tudo na mesma?
Todo este encantamento Websummit torna-se um bocadinho escandaloso, submisso, já para não dizer irritante.
O que aconteceu às startups que estiverem na Websummit de 2016?
A verdade é que um ano após a primeira Websummit pouco ou nada se ouviu sobre as empresas que lá estiveram. Alguém sabe ou ouviu falar de alguma dessas empresas ou startups portuguesas? Uma que tenha estado presente na Websummit do ano passado e que este ano vai de vento em pompa? E se alguém sabe, por favor cheguem-se à frente e falem porque eu gostava de saber.
Afinal quais foram os resultados reais da Websummit em Portugal?
Durante 7 dias não se ouvir falar de outra coisa senão da Websummit: dos milhares de pessoas que visitaram o evento; de algumas (poucas) empresas portuguesas que tiveram o apoio do estado para poderem estar presentes no evento a apresentar a sua empresa e a sua ideia, na procura de investidores e de saídas comerciais para os seus projectos.
Daqui a uma semana já todos se esqueceram outra vez e mais barulho só para o ano. Pela mesma altura, em 2018, quando voltarem os irlandeses para divulgar o seu evento graças ao investimento do estado português.
Mas entre este ano e o próximo eu gostava de ouvir do nosso estado algumas boas notícias sobre as startups portuguesas que participaram. Saber qual o investimento que conseguiram obter ou do crescimento que conseguiram derivado da sua exposição no evento.
Mostrem-nos o resultados de tudo isto
Desafio o estado português a apresentar-nos os números e as estatísticas do evento do ano passado. E não falo do número de visitantes, porque esses são obviamente bons, porque com tanta publicidade toda a gente lá quis ir. Até eu.
Refiro-me a dados relativos às empresas portuguesas e startups que foram ao evento apresentar o seu negócio e procurar expandi-lo ou obter apoio financeiro. Que opções comerciais para expandir o seu negócio lhes surgiram? Que melhorias o evento lhes proporcionou? E para a economia portuguesa? Quais é que foram afinal os resultados do investimento do estado português para os portugueses e empresas portuguesas? É isto que eu gostaria de saber. E provavelmente muitos outros portugueses, e mesmo muitas outras empresas portuguesas que ficaram de fora e que estão a considerar candidatar-se ao evento do próximo ano.
Porque na realidade as empresas portuguesas apresentam-se aqui com um objectivo muito concreto: a expansão do negócio.
O que eu consegui encontrar
Os únicos números que consegui encontrar no google sobre o evento do ano passado foram num artigo da Computerworld que divulgou os números de visitantes, quilómetros de fibra óptica, entre outros números que nada têm a ver com o crescimento da economia. Assim como já foram partilhados alguns dados nos media sobre o evento deste ano num artigo do SapoTek.
Alguns artigos mostram-nos a maior ou menor satisfação de alguns expositores portugueses, e resultados, mas muito pouco. Pelo que encontrei a maioria das empresas, se conseguir expandir-se, procura sair do país. Não me parece que isto seja totalmente positivo. Embora positivo para essas empresas, como é óbvio, o nosso país não parece estar a dar-lhes o apoio necessário que se segue para que continuem em Portugal. E algumas nem acham que valha a pena o investimento no evento. Até porque o investimento num evento destes não passa apenas pelo valor da inscrição. Depois há toda a logística de pessoas e do espaço que vão ocupar durante os dias do evento e, que também tem custos.
Muitos são os artigos que nos indicam um pouco mais sobre este assunto:
Ir mais além fronteiras
Ir ao Websummit compensa startups?
Também podemos saber quais foram as 150 startups vencedoras do concurso do estado com direito a um programa de mentoria (“workshop de preparação”) para o evento, chamado de Road2Websummit. E aparentemente também tiveram um desconto de 50% na inscrição.
Quem tudo começou: o fundador da Websummit
Todos nós, ou muitos de nós, os mais atentos, já ouviram falar do senhor Paddy Cosgrave, fundador da Websummit. E este senhor parece achar que o mundo inteiro parou para “olhar” para ele nestes dias. Parece que todos vão à Websummit para dizer “estive lá e vi o Paddy Cosgrave em pessoa”.
O evento em Lisboa porquê?
Segundo o próprio Paddy Cosgrave, criador do evento Websummit,
“Escolhemos Lisboa porque tem algo de especial”
Mas isso é fácil compreender tendo em conta que eles são da Irlanda… E Portugal, para quem não sabe, tem uma grande comunidade tecnológica e somos muito evoluídos a este nível.
A razão que o Paddy Cosgrave não assume
Na realidade o que o Sr. Paddy Cosgrave queria dizer era: Portugal tem as condições, infra-estruturas e condições tecnológicas para este tipo de evento.
Além disso ele refere que Lisboa beneficiou de “uma enorme campanha nas redes sociais (Twitter e Facebook)”, num movimento que “cresceu de uma forma monstruosa e tornou-se imparável”. Mas afinal somos apenas uns viciados em redes sociais e por isso deu jeito?
Alguém diga a este senhor que foi por algo mais interessante do que apenas um país com sol e pessoas viciadas em redes sociais. Afinal de contas a evolução tecnológica não se limita às redes sociais. Só se fôr na Irlanda. É por aí que medimos a tecnologia de um país? A mim, nada disto me soa a grande elogio a Portugal. Mas também não era para ser. Era só para esconder o facto de a Irlanda ser inferior a nós no que diz respeito a estruturas e tecnologia. Mas isso ele não quis dizer.
E em que ficamos afinal: verdadeira razão
No fundo, Portugal foi escolhido porque está na Europa, e até tem um clima agradável. Porque estamos na Europa e em grande crescimento (aparentemente como todos dizem). Precisamos de nos mostrar ao mundo porque queremos crescer a sério devido à crise que atravessamos.
E se for preciso até temos o Presidente da República a “pedinchar” para que fiquem mais 2 anos e o Paddy Cosgrave a ignorá-lo com um sorriso de desdenho. Lamento o comentário depreciativo ao nosso Presidente, mas é a isto que me soa.
O Sr. Paddy Cosgrave adora este tipo de atenções sobre si. E a culpa não é do Marcelo. É de um país inteiro que parece estar a venerar este senhor Paddy Cosgrave, sem saber porquê.
Devíamos estar a dar mais valor ao nosso país e aos esforços que temos feito e a evolução tecnológica que temos em Lisboa e em Portugal em geral desde há bastante tempo.
A organização da Websummit
Todos nós ouvimos falar da falta de organização que teve o evento em 2016. Muito visitantes que compraram o bilhete geral, com o intuito de ir à conferência de abertura e não conseguiram entrar, ou porque estava lotado, ou porque não conseguiram registar-se para o evento.
Aparentemente a conferência de abertura apenas permitia a inscrição até 10 mil visitantes com bilhete. Será que esta informação não deveria ter sido indicada de início para todos saberem com o que contar? Pelos vistos não acharam essa informação importante e preferiram iludir os visitantes com a ideia de que com aquele bilhete todos poderiam ir assistir à abertura.
Não sei porquê, mas de alguma forma, tudo isto me parece um bocadinho enganador para o povo português.
A Websummit e os números que conseguimos saber
Vamos então a alguns números e estatísticas que foram divulgadas nos media:
- Em 2016, obtivemos cerca de 53 mil visitantes. Em 2017 os primeiros números reportam cerca de 59 mil visitantes. Longe dos 80 mil esperados.
- Muitos terabytes de tráfego e quilómetros de fibra óptica.
- Este ano mais de metade dos visitantes foram do sexo feminino.
- 2100 startups e 1400 investidores.
- Dezenas de sessões de 15 minutos entre os investidores e as startups para estas apresentarem as suas ideias.
Até podemos saber quantos pastéis de nata se consumiram.
Eu pessoalmente estive lá e vi muito “mirones”, como eu. Negócio – só à grande e dos “grandes”. Vejo todos os “grandes”, como Google, Mercedes, Farfetch, que gostam sempre de se mostrar. Mas esses vêm aqui porque têm sempre de estar presentes neste tipo de eventos. Mas esses também não precisam disto.
Os stands de sucesso
Google, Mercedes, Microsoft, Farfetch, entre outros gigantes.
O auge do stand da Farfetch era um joguinho de perguntas sobre a própria Farfetch, para se ganhar um saco de pano ou uma mochila. E as pessoas (leia-se mirones) faziam filas intermináveis para receber o seu. Quando uns metros acima poderiam levar um saco de pano igual sem perder tempo, nem responder a nada. A diferença é que não dizia “Farfetch”. E para isto toda a gente perdia tempo.
Um showoff de estrangeiros a passearem-se pelo Parque das Nações, de grandes empresas internacionais de renome, e algumas figuras importantes. Até o Einstein apareceu.
Os Stands Portugueses
Gostei de ver a presença da SIBS, empresa portuguesa de grande inovação tecnológica. A maioria dos portugueses não sabe nem de metade. E por isso é uma lufada de ar fresco ver uma das nossa grandes aqui. Todos lidamos com a SIBS numa base quase diária, e muitos de nós não o sabe. A maioria dos portugueses desconhece a inovação em tecnologia nem a empresa que está por trás de serviços que já damos como garantidos.
Traduzido por miúdos o que fica de tudo isto?
Fica uma semana de muito entusiasmo, muitas notícias repetidas sobre o assunto. Um grande encantamento de um povo que até parece que é pobre em tecnologia, mas que na realidade não é, mas se calhar nem sabe.
E será que ficou a saber?
Apenas vejo muitas notícias em todos os media sobre o evento, muitos estrangeiros no Parque das Nações. Hotelaria e restauração cheios e satisfeitos com uma boa semana de negócio. Uma semana em que falam de “nós” no mundo inteiro. Mas amanhã já só se volta a falar do Ronaldo na selecção. Muito pouco tecnológico não?
E é verdade, Portugal fica na mira do mundo. Mas porque razão? Para virem roubar ideias e negócios e exportá-los para fora do país? Ou ficam cá para investir, contar a história e fazer o nosso país crescer, não só em atenção, mas também em negócios, tecnologia e economia?
Na economia
Sim, houve um impacto positivo e um retorno imediato e directo na área do turismo, restauração, tecnologias de informação e transferência de dados. Mas o efeito real só poderá ser analisado a médio prazo. Daí a pergunta inicial: O que aconteceu às startups que estiverem na Websummit de 2016?
Uma lição para o próximo ano?
Acho que todos temos muito a aprender com esta experiência para a próxima não fazermos a figura de uma “criança” que anseia por atenção. Que tal começarmos a comportar-mo-nos como adultos que somos na área das tecnologias.
Na minha opinião, este evento é um falhanço em muitas perspectivas. Especialmente nos efeitos pós-evento, que ninguém sabe o que se passou.
Para as empresas?
Na revista negócios encontrei um artigo que é interessante sobre o pós Websummit para quem quiser informar-se mais a fundo (artigo pago).
Encontrei em sites perdidos alguns artigos como este que sempre nos mostram alguma coisa de concreto e testemunhos reais.
Não é investimento real que fica, apenas uma perspectiva, uma esperança e talvez muitas reuniões futuras.
Mas fale quem lá esteve com o seu negócio que eu gostaria de saber mais sobre essas empresas/Startups.
Podem contactar-me por email que eu agradeço saber das vossas experiências para partilhar com o país tudo o que ninguém ainda disse.